Sobre o amor

O amor é uma instituição falida. Pensei ao me sentar para tomar café com meus pais. Estava lembrando de todas as vezes que "amei", em cada pessoa que tocou minha vida e o meu coração e conclui que esse tal de amor não existe. É invenção. Balela. Historinha pra boi dormir. Pode existir paixão, gostar, gostar muito, mas amor?Ah, esse não existe. Em tempo longínquos pode até ter existido, mas hoje, sinceramente, não consigo acreditar mais na sua existência.E por não acreditar na sua existência eu acabei desistindo dele. Cansei de quebrar a cara, de me doar e não ser reciproco. Inclusive, como é difícil reciprocidade nos tempos atuais, não é mesmo?. De chorar, de ter esperanças. Estou exausta. Não tenho mais ânimo para joguinhos, para sempre ser o lado que gosta mais, o lado que se importa, o lado que não quer machucar e sempre ser o lado que sai machucado. Essas coisas cansam, desgastam e eu preciso me manter bem para poder ter uma vida boa, porque afinal, tem tanta vida pra se viver, tanta coisa linda por ai e perdemos tempo procurando esse tal de amor. É isso ai, amor, eu estou desistindo de você. Vou viver sem amor. Quis gritar. E foi nesse momento que meus pais se levantaram , minha mãe está um pouco doente então meu pai com toda atenção e cuidado ajudou-a levantar. Cai por terra. Quando eu tinha cansado de procurar, adivinhem? Eu encontrei o amor. Lembrei de cada cena que presenciei nos últimos dias e no que era todo esse companheirismo. Meu pai cozinhando para a minha mãe. É amor. Meu pai ajudando a minha mãe a se levantar. É amor. Meu pai dando banho na minha mãe. É amor. Meu pai não desgrudando da minha mãe. É amor. Meu pai levando minha mãe para caminhar na pracinha. É amor. Depois de tantos anos de casados eles continuavam ali, um ao lado do outro, na saúde e na doença, para tudo o que outro precisar. Como posso ter pensado que o amor não existe sendo que ele estava ali bem na minha frente o tempo todo? Descobri que o problema não é o amor, mas sim a minha visão sobre ele. Acompanho esse amor há 20 anos e ele sempre foi calmaria, puro e sereno e vendo daqui esse é a melhor versão do amor. O problema é que necessitamos tanto do amor que fantasiamos a sua presença, queremos ser amados e depositamos erroneamente todas as nossas esperanças em lugares errados, ficamos frustrados quando as coisas não dão certo e acabamos desacreditando dele, foi o que aconteceu comigo. Mas se eu posso te dar um conselho é: acredite no amor, às vezes ele está bem na sua frente e você só tá olhando pro lado errado. Assim como eu estava. Eu diria que o amor é uma questão de astigmatismo, às vezes é o foco que está errado.